DOLCE VITA
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                        TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR


 

Na época de meus avós seriam cartas. A caixinha de metal na rua se mudou para a tela de um micro dentro de casa. O encanto poderia ter se esvaído, mas uma tela traz surpresas. E é sobre uma delas que pretendo falar por inúmeros motivos, mas, sobretudo porque algumas pessoas são definitivas. Não importa o tempo passado ao seu lado. Um dia, um mês ou uma vida.

Seu nome é Fernando e vejo o talento no trato da palavra desabrochar com uma vibrante energia, mas em seguida, a surpreendente maturidade surge clara. Como alguém tão jovem pode ser simples e denso? Leve e profundo? Não resta a menor dúvida: estou diante de um escritor.

Uma alegria, provavelmente compreensível apenas para quem também escreve, tomou conta de mim. E é uma alegria danada porque no fundo sabemos o que nos leva a escrever. E nem sempre a fonte é alegre, mas talvez justamente por isso, seja uma alegria ainda maior quando a palavra rompe a solidão sem sentido.

Queremos fazer sentido ao escrever. E esta procura, ancorada na palavra, solitária e muitas vezes estranha, parece se incorporar à nossa alma.

Com as palavras de Fernando li sua busca, fisgada pela rede que ele lança sem medo no mar de seus textos. Quando o leio, descubro que estou mergulhada em águas limpas. Posso ver com clareza seu mundo. Não há nada a esconder. A única isca é a palavra. Armadilha bem-vinda que me captura logo na primeira frase.

A palavra escrita de seus textos me levou a outras escritas e passamos a nos corresponder. Nossos textos agora eram diálogos. Diversas vezes me peguei a gargalhar diante de suas observações irônicas. É interessante perceber como a economia tem um papel fundamental no senso de humor. Fernando é econômico. Vai direto à jugular da graça. Resultado: muito riso. E tantas coisas para pensar.

A primeira vez que conversei com Fernando e trouxemos a palavra falada para este cenário, realizei a dimensão de sua grandeza. Poucas coisas têm meu respeito absoluto. Entre elas, inteligência, talento e dor.

Nada é mais triste que a dor desacompanhada de sinal de vida inteligente. O deserto do espírito de quem sente a dor e não a transforma é infinito. O oásis de quem a expressa, quase uma prece.

A beleza de Fernando encontra seu mais profundo ângulo na expressão de suas palavras. Como se fossem asas, voam rápido e vão muito longe, livres e indomáveis como seu espírito. Meus olhos passeiam pelos movimentos das imagens inspiradas na mais impressionante naturalidade.

Fernando é natural como só as pessoas singulares podem ser. Quem o lê, sabe. Quem escreve, confirma.

Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 16/04/2009
Alterado em 26/08/2011
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