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                                                 Manhattan
                                         Direção: Woody Allen





Esta resenha não apresenta sinopse nem ficha técnica por traduzir uma interpretação ligada unica e exclusivamente à experiência personalíssima que a obra deste cineasta me proporcionou. Portanto, aos possíveis leitores, minha sugestão seria a leitura de outros textos, provavelmente mais próximos da visão compartilhada a respeito deste filme.

Se ainda assim, deseja prosseguir, bem-vindo a bordo!

A primeira vez que vi Manhattan não consegui deixar de pensar na opção de filmá-lo em preto e branco. O encantamento do cineasta pela cidade é conhecido do público e achei interessante a ausência de cor em um filme que leva o nome do lugar.

Claro que isso não me ocorreria se em 1979, esta prática de filmagem fosse corriqueira. E também a questão que proponho é simbólica. O clima em preto e branco é compreensível, talvez até esperado diante do refinamento estético de seu criador.
 
Minha indagação busca interpretar além do aparente, uma vez que as cores estão constantemente ligadas a símbolos.

Em Manhattan, Woody Allen, novamente, aborda uma construção intricada de relacionamentos, ora rompidos e ao mesmo tempo, escancaram ainda mais sua existência (como no caso da ex-mulher que decide publicar a intimidade do casal), em outras ocasiões iniciados com nuances hostis para se reverterem em atração (a amante do amigo que se aproxima) ou ainda, no fascínio exercido por uma personagem tão mais jovem, mas que se contrapõe com a maturidade que parece faltar ao personagem de Allen.

O mundo dos personagens retratados por este cineasta, exibe perfis e referências intelectualizadas, eruditas ou sofisticadas, porém com um ponto em comum: a ausência de inteligência emocional que possibilitaria uma visão mais flexível e ampla para as resoluções de seus conflitos.

E passei a pensar nas cores e, mais uma vez, no desenvolvimento da personalidade. Como colorir a visão com outras possibilidades além do preto e branco? Transitar por todos os conflitos sem se deixar paralisar por eles e buscar um sentido para prosseguir? 

Imagine que a criança tenha apenas duas possibilidades de compreensão do mundo. Seu repertório está sob domínio do desejo e prazer. Ela não tolera ser frustrada. Seu mundo, então, teria dois pólos, como o "branco e preto". Se ela é atendida, tudo é paz. Se não, é o "fim do mundo".

A criança ainda não é capaz de compreender que existem outras "cores", recursos internos que a farão mais capaz de tolerar desagrados, contrariedades, adiar desejos, transformar criativamente outra possibilidade para dar uma resolução menos dolorosa aos conflitos. E então surge a "cartela de cores" de nosso mundo interno.

Manhattan é um interessante contraponto a isso. Justamente em um filme preto e branco, esta "cartela de cores" aparece costurada pelo encaminhamento dado à trama. É interessante observar o personagem que traz essa maturidade ao filme. A personagem Tracy, interpretada por Mariel Hemingway. O último diálogo de Manhattan chega a ser "didático" para aqueles com alguma intimidade com o divã.

O contraste da imaturidade do personagem de Isaac (Allen), que recorre à ironia ao pedir a jovem para não ser tão madura. E em contrapartida, Tracy e suas questões configuradas de uma forma muito mais clara, o que permite ao personagem de Allen, olhar por outro lado, afinal por que não, enfim crescer? E com isso, confiar um pouco mais em si mesmo e no outro?

E assim, Manhattan surge como a alma mergulhada à procura da cor.




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Enviado por Dolce Vita em 26/04/2009
Alterado em 02/06/2009
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