DOLCE VITA
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                                    GOSTO NÃO SE DISCUTE






Dizem que presentear é uma arte. Se isto for verdade, vivo rodeada por pessoas sem o menor talento artístico!


A minha experiência desastrada nesta área poderia render!
Provavelmente lucraria com os inúmeros constrangimentos a que fui submetida em público, principalmente no Natal. 


Durante anos, vivi momentos inacreditáveis, para não dizer traumáticos, em que me senti vítima do gosto alheio. Foram tantos presentes estarrecedores, que seria terapeutico fazer uma exposição com os mais inacreditáveis que ganhei até hoje.


Confesso que já imaginei o título: "Coleção Mico & Presentes de Grego". 


Lançada a idéia, aguardo patrocínio.


Não vou elencar um por um, afinal são muitos e esta crônica não pretende ser sádica, nem masoquista. Se me alongar demais pode ficar depressiva. Então, o segredo é resumir a tragédia.


Meu estilo é clássico, não gosto nem uso roupas de cores vibrantes e estampadas. A forma de nos vestir é visível a olho nu. Portanto, não seria difícil que a pessoa observasse para, ao menos, ter uma noção. Afinal, se ela nem se lembra de olhar para você, como pode presentear sem correr o risco de errar muito na sua escolha?


Tive uma cunhada que, sinceramente, mereceria o Oscar na categoria "defeitos" especiais em presentes.


Lembro que, em um Natal, durante toda aquela agitação na hora de presentear, abria as caixas com sensação de estar desarmando uma bomba, tamanho o pavor que se instalara em mim.


Nessa noite, ganhei um pijama amarelo-ovo estampado com enormes bolas verdes, roxas, azuis e vermelhas. Se por acaso, veio a sua mente a lembrança de uma roupa de palhaço, está equivocado. O pijama era, de longe, bem mais extravagante! Claro que utilizo este adjetivo como mero resquício de civilidade e educação.


Não sei dizer o que era mais aterrorizante. Olhar para o presente e fazer cara de paisagem, sentir as pessoas observando o que eu iria exibir ao retirar da caixa ou a minha própria esperança que se esvaía, ano após ano.


Nem preciso dizer que, em pouco tempo, a maior atração famíliar passou a ser o que eu receberia de presente nestas datas. E sinceramente, era um show à parte!


Essa mesma cunhada conseguiu se superar no ano seguinte. Sim! Quando você pensa que chegou no fundo do poço, percebe que algum espírito lúdico cavou mais um pouco!


Minha expressão de desgosto, ao desembrulhar o presente, merecia um poster. Bem, vamos aos fatos. Era uma blusa, mas se fosse utilizada como toalha, em uma cantina italiana, com aquela imensa estampa xadrez verde e vermelha, ninguém notaria a diferença!


Quem mandou declarar ao mundo que era apaixonada pela Itália! Fiquei bem mais calada depois disso!
 

Na verdade, estes presentes teriam tudo a ver comigo! Claro! Se eu fosse uma extraterrestre!


Impressionante, não? Acho que era um dom natural e espontâneo. Minha cunhada simplesmente escolhia o que ficaria bem nela e passava adiante.


Não sei se deveria citar os próximos exemplos, mas para não passar a idéia de que sou exagerada, amarga (Deus me livre!) ou ingrata, passo a relatar mais quatro presentes insólitos.


No ano em que me casei, outro Natal aconteceria. E o presente mais inesperado da minha vida! Ganhei um livro! O título? Antes de dizer, peço que se contenham porque não é piada. Repito: não é piada!


Casamento para rir ou para chorar? (Sim, este é o título!) 


Nenhum humorista, nem o mais brilhante, chegaria perto disso!


Outro Natal viria. Dessa vez, ganho um belo chaveiro com a estrela de David. Realmente bonito. Só não saberia explicar aos meus avós, libaneses, como e quando havia sido minha suposta conversão.


Por respeito ao símbolo e à religião, guardei o presente e depois de algum tempo, perguntei a uma amiga judia se ela desejava o chaveiro. E assim, o presente pôde ser usado com a verdadeira significação religiosa e simbólica que carrega.


Outra cunhada me surpreenderia com um presente duplo, em mais um Natal! Não me considero uma mulher em estágio cronológico avançado, mas, ao abrir os presentes,  tive sérias dúvidas a respeito de minha imagem!


O que eu ganhei e abri em público para o deleite dos meu irmãos que riram por um mês da minha cara?
 

Uma touca plástica de banho e (pasme!) um porta-bolsa de água quente que nem minha avó, aos 98 anos, usaria!


O presente ideal se você deseja que a pessoa se interne com uma síncope nervosa no dia seguinte. 

E o "kit hospitalar" foi formado ao combinar "divinamente" com a camisola que minha outra cunhada havia dado.


É verdade! Gosto não se discute!


Publica-se!




(*)
Imagem: Google

http://www.dolcevita.prosaeverso.net

Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 19/05/2009
Alterado em 29/09/2009
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