DOLCE VITA
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                   FUI ADOLESCENTE E SOBREVIVI!!!





Esta história se passa naquela fase obscura também conhecida por adolescência.


Confesso que vivi momentos de terror e êxtase, a tal ponto incompreensíveis, que imaginei a adolescência como um teste divino (ou seria diabólico?) de sanidade mental! E passei a acreditar que Deus era alguém extremamente ocupado para dar atenção às minhas crises existenciais juvenis.


Um dia, numa obra cínica do destino, durante uma consulta ao meu oculista, profissional tão concorrido a ponto de meu problema desaparecer até a data da consulta, fui informada de que deveria passar por um cirurgião plástico, a fim de retirar algumas pintas que estavam muito próximas aos meus olhos.


O médico escreveu uma cartinha ao seu colega que deveria fazer a intervenção. Cheguei na consulta com aquela cartinha na mão, e foi lá que ela permaneceu por ter entrado em estado de choque, logo no início de nossa desastrada conversa. Mal sentei na cadeira, este famoso cirurgião plástico vira-se para mim, numa tentativa infeliz e inglória de parecer natural, e pergunta:


- Veio melhorar o nariz?


Devo confessar que estas quatro palavrinhas soaram como um tapa na minha orelha. Juro que ela é tão delicada como eu por dentro. Fiquei numa espécie de estado catatônico com os olhos arregalados de espanto e terror!


Você deve estar se perguntando agora se meu nariz era, de fato, merecedor de tal impressão.


Está bem! Já que estou aqui para dizer a verdade, somente a verdade e nada mais do que a verdade, lá vai: sou descendente de libaneses, é verdade, e não posso nem quero negar nada!


Entretanto meu nariz não possui dimensões estratosféricas, como ter um Coliseu no meio do rosto, que permita e justifique esse diagnóstico prematuro, inconsequente, preconceituoso e perfeitamente dispensável!


Voltando à fatídica consulta... Como não sabia mais o que dizer (naquela altura havia até me esquecido da carta e do real motivo de minha presença ali), abaixei a cabeça, num pesar tão profundo, que só pôde aumentar em intensidade, como se eu estivesse sofrendo com uma cólica renal, ao ouvir:


- Desculpe! Como não percebi antes! É o busto que a incomoda!


Tentei esboçar uma reação que foi interrompida com a complementação do raciocínio sádico, característico de todo cirurgião:


- Devo alertá-la que para redução de mama é necessário estar com o peso compatível. Hum, deixe-me ver, se você perder entre dez e quinze quilos poderei operá-la com o maior sucesso!


Saí daquele consultório em transe, antes que o doutor se empolgasse ainda mais e me retratasse como uma aberração da natureza, instalando em mim mais um complexo... de Quasímodo!


Como resultado desta experiência traumática, além de apresentar mais dois complexos, ganhei uma cifose, afinal já não andava mais com a cabeça erguida, na tentativa idiota de disfarçar o nariz e também uma discreta escoliose, adquirida em conseqüência de um erro de postura que tinha por objetivo esconder o busto! Ou seja, quase Quasímoda!


E assim, quando tornei-me adulta, meu cirurgião plástico e meu ortopedista tornaram-se co-responsáveis por minha saúde nesta área.


Claro, sem mencionar que passei por três analistas!


Este foi o preço que paguei por ser adolescente um dia...




(*) Imagem: Google

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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 19/08/2009
Alterado em 19/08/2009
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