Eduarda ouvia Roberto Carlos o dia inteiro e cantava:
- São tantas emoções!
Enquanto Mônaco lia Sartre e repetia o tempo todo:
- O inferno são os outros!
O mundo de Eduarda era outro. Sem mistérios ou crises existenciais. Sempre que Mônaco falava naquele tal inferno, ela dizia:
- Para o "Rei" valeu a pena! Ele mandou tudo para o inferno e fez sucesso!
- Eduarda, assim não dá! Eu falando em Sartre e você com essa mania pop! Respeite meu ser e a náusea!
E, mais uma vez, o pensamento prático definiu a situação:
- Eu bem que te avisei para não comer aquela coisa de nome maluco! Para mim, aperitivo bom mesmo é azeitona e tremoço! Mas você quer ser chique!
- Pelo amor de Sorbonne!
- Não era Sorbonne, não! Lembro muito bem! Era escargot! Com este nome, não podia ser coisa boa! Olha aí no que deu querer ser chique! Depois fica assim!
- Não consegui captar a Torre Eiffel do seu pensamento! O que quer dizer, Eduarda?
- Você está com cara de quem comeu escargot e não gostou! Aliás, deve ser a cara de quem lê esse livro aí! Outro nome doido! O ser e a náusea! Por acaso, você acha chique ser enjoado? Eu hein!
Mônaco sentiu o estômago literalmente embrulhar e foi até a cozinha. Antes de ingerir o décimo sal de frutas do dia, ao observar a coleção de pingüins de porcelana, em cima da geladeira vermelha, reclamou baixinho:
- Só os cafonas são felizes!
P.S.: Texto inspirado na brilhante música "Eduardo e Mônica", da Banda Legião Urbana.