Meu primeiro vestido longo. Branco. Fios azuis e dourados contornavam pequenas flores numa espécie de moldura para a roupa. O nome deve ser passamanaria. Nunca fui boa com esses termos.
Era a minha primeira comunhão e, aqui entre nós, eu me sentia uma atriz com direito a figurino e ensaios com as outras crianças da escola. As cenas repetidas à exaustão. Tudo teria que ser perfeito.
Confessso, eu me divertia (será que não podia?), enquanto a professora, paciente criatura, não sabia mais o que fazer diante da minha recusa em confessar:
- Não tenho nada errado pra contar ao padre!
Ela ponderou: - Todos nós erramos. Pense melhor.
- Mas eu não faço nada errado.
- Pois confesse isto. É uma mentira.
E aos oito anos, respondi: - Eu não minto. Às vezes, invento. Só um pouco.
Acho que essa foi minha primeira comunhão com a palavra.