Gildo entrou apressado no escritório do detetive particular. Se alguém dissesse a ele que, um dia, estaria ali, ansioso para receber o relatório de todos os passos da esposa, certamente imaginaria que essa pessoa perdera o juízo. No entanto, lá estava ele, sentado diante do homem que selaria o destino de seu casamento. Será que a estranha conduta de sua mulher ― distante e cada vez mais distraída ― destruiria o amor entre eles? Só Alfred conhecia a resposta. O detetive com nome de mordomo abriu uma pasta amarela repleta de fotos e anotações do caso. Por um brevíssimo momento, Gildo sentiu-se culpado por desconfiar que a companheira fosse infiel. Pensou em sair dali com o benefício da dúvida, mas seria um martírio passar o resto de seus dias atormentado por suspeitas. Sem delongas, o detetive Alfred tomou a palavra para expor os passos de Laura nas últimas três semanas. "Não há nada de errado na vida dela. Aliás, eu diria que não há nada. Poucas vezes investiguei uma vida tão enfadonha. O problema de sua mulher deve ser tédio". Naquela noite Gildo caiu no sono como um anjinho, ao contrário de Laura que passou a madrugada em claro, pensando no amante que retornaria ao Brasil na manhã seguinte, após quatro semanas e meia em Paris.