Riscou o fósforo num impulso − agarrada a uma espécie de coragem – até queimar todos os retratos. Seria preciso resistir às lágrimas, afinal ele já estava com outro amor. Antes de ir embora, certificou-se de que não havia um traço sequer dos dois entre as fotos destruídas. Parada no meio da enorme sala sem móveis, ela não conteve o choro.
Decidida a acatar o conselho dos amigos, mudou-se do antigo apartamento para uma casa de tijolos aparentes. Tudo absolutamente novo. E vazio. Ali ela não era mais dele. Nem de ninguém. Uma mulher perdida de si mesma.
Os primeiros meses se arrastaram. Houve uma tarde em que ela quase confundiu seu silêncio com serenidade. Sentada no sofá da sala, fingia assistir a um programa qualquer na televisão. No entanto, bastava fechar os olhos para enxergá-lo ainda vivo dentro dela. Nessas horas oscilava entre o choro de uma criança indefesa e a raiva que nunca imaginara sentir.
Quando se deu conta era fim de ano. Na noite do Réveillon, foi com os amigos a uma festa. E, por uma estranha coincidência, lá estava o homem que tanto amara. Sozinho. Uma inesperada sensação de prazer a invadiu ao vê-lo sem ninguém ao lado. Parada no meio do salão, ela não conteve o riso.