Ouviu — calado — toda a história. Àquela altura não passava de alguém perplexo, sem a menor ideia do que dizer ao grande amigo. Apesar de todo estranhamento, sentiu uma ponta de admiração pela coragem que Leonardo exibira ao revelar os detalhes daquela paixão desenfreada. Teria sido simples entender outros afetos. Depois de tanto tempo sozinho, por que seu amigo não saía com a nova morena do escritório ou a ruiva do segundo andar, sempre disposta a lançar indiretas? Mas não. Leonardo encontrara um porto seguro naquele colo macio: a poltrona de veludo italiano, presente de uma tia estrangeira. Agora o mundo girava em torno do que ele e a poltrona sentiam. Sim. Era um amor correspondido.