João morreu no mês passado. Como ninguém sentiu sua falta, não houve velório nem enterro. Se ao menos uma alma curiosa tivesse entrado na casa daquele homem, poderia encontrá-lo deitado na cama, olhos estatelados desde sua última manhã de abril. Estranhamente, o corpo permanecera intacto, sem o menor sinal de decomposição.
Nos primeiros dias, João sentiu fome. E, de vez em quando, a sede ainda o incomodava. Nada que não pudesse tolerar, afinal estava morto. Na semana passada, durante mais uma tarde silenciosa, tentou mover os dedos da mão direita, mas desistiu com medo de ressuscitar.