Lorena observou o marido enquanto ele andava em direção à porta. A cena não teria despertado o menor interesse, não fossem os pequenos pulos que Vittorio dera até girar a maçaneta, e sair de casa sem olhar para trás.
O que motivara os estranhos e inesperados pulinhos do marido? Certamente alegria. Uma brevíssima — porém honesta — retrospectiva de seu casamento obrigou Lorena a descartar a hipótese otimista. Há alguns anos a alegria não dava mais o ar de sua graça por ali.
No entanto, naquela manhã, ao passar pela esposa, Vittorio exibira um contentamento evidente. Tão visível que a deixara irritada. E surpresa ao se dar conta do próprio egoísmo. Seu marido não merecia sentir algo bom? Por que ela não poderia se alegrar com sua satisfação?
Naquele exato instante, Lorena, que procurava algum ânimo na terceira xícara de café, correu para atender ao telefone. Talvez fosse Vittorio. Tudo teria uma explicação lógica. Ele ganhara uma promoção na empresa, e ambos iriam, finalmente, à Itália. Do outro lado da linha, uma voz feminina chamou por seu marido. Antes que Lorena pudesse dizer qualquer coisa, a ligação foi cortada.
Durante todo o dia, a voz da fulana ao telefone e os ridículos pulinhos de Vittorio martelaram o pensamento de Lorena. Não havia mistério: seu marido tinha uma amante. Porém, a descoberta da suposta traição não resistiu a outra rápida retrospectiva. Suportar Vittorio era tarefa gigantesca para uma mulher. Duas? Nem pensar.
Ao cair da tarde, pontualmente — como nos últimos dezenove anos —, o marido de Lorena voltou para casa. E os pulinhos? Nunca foram explicados.