Ela decidira guardar num diário as passagens importantes de sua vida. Seis anos de tédio mais tarde, e nenhuma linha sequer no caderno de capa aveludada — com direito a cadeado —, Rutinha apaixonou-se perdidamente.
Escrever mil e uma páginas tornaria a história dos dois ainda mais romântica. No entanto, discretíssima por natureza, Rutinha manteve o nome do amado em segredo. Preferiu chamá-lo de F.. (sim, isso mesmo, seguido por dois pontinhos: nada de ponto final, muito menos reticências).
Na primeira vez em que seus olhos se encontraram, ela sentiu um longo arrepio nas costas. Seria um sinal? Ao lado daquele homem de olhos verdes ela conheceu a alegria. Antes dele, era quase como nunca ter sorrido.
Tudo — absolutamente tudo — em F.. exercia nela um profundo fascínio. Tamanho encantamento levou o dono da voz mais bonita que Rutinha ouvira a sentir-se cultuado num pedestal como uma verdadeira celebridade. O romance durou muitos e muitos anos. Para sorte da devota Rutinha, F.. tinha um ego gigantesco.
Numa tarde abafada de domingo foram ao zoológico, e dividiram um saquinho de pipoca. No final do passeio, F.. perguntou:
— Satisfeita, meu bem?
Naquela noite, Rutinha escreveu a última página em seu diário.