Dois anos haviam se passado sem que ele desse o menor sinal de vida. E agora lá estava Clarice, a alguns passos do homem a quem amara por quinze anos. Tantos lugares no mundo, e ela decidira entrar naquela cafeteria para matar sua sede. Ao vê-lo parado no balcão, sentiu a garganta ainda mais seca.
Leandro sorriu sem graça. Tarde demais para fazer de conta que não haviam visto um ao outro. Então veio o convite desajeitado para um café. O garçon sugeriu a especialidade da casa: bolo de chocolate. E a demora até o tal pedido chegar à mesa levara Leandro a desejar não ter saído de casa, enquanto Clarice imaginava qualquer desculpa para ir embora.
Uma conversa entre absolutos estranhos teria fluído melhor. Com medo de invadir suas privacidades evitaram quase todos os assuntos até que não restasse muito a falar, além do clima. Por pouco não tocaram em questões ambientais, mas ambos nunca foram engajados em coisa alguma.
Diante das xícaras de café vazias e dois pedaços de bolo, Clarice finalmente entendera: a história dos dois havia se dissolvido a tal ponto que não havia mais nada a dizer. Não. Quase nada. Quando o garçon trouxe a nota, ela não permitiu que Leandro pagasse sozinho. Dividiriam também aquela conta.