Chico Salgado veio de longe. Viajara o mundo sem desgrudar-se daquele chapéu com as abas ligeiramente erguidas. Não pensava em criar raízes até o dia em que conheceu Yoko. Uma gueixa. E tudo ficou com um gosto tão doce que ele sentiu medo.
Yoko encantara Chico pelo jeito manso no olhar. E aquela ternura era tamanha que despertara nele uma vontade sem cabimento de agarrar-se a seu colo. Logo ele que podia ser muita coisa nesta vida, menos fraco. Isso não.
Isso, sim. Chico Salgado espremera o amor dentro dele com o peso das desconfianças. Era insuportável imaginar Yoko nos braços de outro homem, por mais que ela jurasse ser somente sua. Bastava que a mulher saísse, e seu sossego ia junto. O tormento estava instalado: e se ela o deixasse? Chico não suportava mais desamar.
Naquela noite, ao deitar-se ao lado de Yoko, ele disse que partiria na manhã seguinte. O silêncio da gueixa dilacerou seu peito. Lembrou-se da mãe sempre tão calada diante dos abusos de seu padrasto. Quando Yoko adormeceu, Chico Salgado chorou todas as lágrimas que devia ao menino de nove anos que fugira de casa.