Dentro de Clara havia uma mulher morta. A constatação ocorreu momentos antes de seu carro chocar-se contra um ônibus na estrada. Aos trinta e sete anos, ela não havia escrito uma história que valesse a pena conhecer. Fugira de tudo. E de todos. O medo da vida dominara sua alma com a força que só os covardes conhecem.
O som da freada brusca cortou o silêncio de sua última noite. Clara fechara os olhos para sempre. Quando tudo parecia ter chegado ao fim, ela ouviu uma voz celestial chamar seu nome. A estrada havia ficado para trás. Clara estava dentro de um elevador, e Deus à sua frente.
— Aonde o Senhor vai me levar?
— Clara..., Clara..., sabe do que eu mais sinto falta neste meu divino ofício?