Tiago caminhava sem rumo pelas calçadas escorregadias. Desde o início da tarde, a chuva não parara um só instante. A cada passo aumentava sua vontade de gritar por socorro, mas ele fora educado para não incomodar os outros. Ainda que precisasse desesperadamente de uma pessoa com quem pudesse falar a respeito de suas angústias, Tiago não procurava ninguém.
A chuva fina complicara o movimento nas ruas. Uma mulher passou apressada por ele. A cor vibrante de sua capa vermelha contrastava com o guarda-chuva branco. O andar decidido daquela mulher encantara Tiago. Talvez por isso, ele — que vivia à deriva — resolvera segui-la.
Ao chegarem a uma praça, ela parou em frente à fonte. Ali, um pequeno anjo esculpido em mármore segurava um jarro que vertia água. A mulher molhou a ponta dos dedos levando-os à boca. E por quase meia hora — com o olhar preso ao anjinho de pedra — ela desatou a falar da vida.
Atônito, Tiago acompanhava de perto aquela cena. Enquanto ouvia o inusitado desabafo, rendeu-se à curiosidade:
— Por que você conversa com uma estátua?
A mulher virou-se bruscamente. Irritada, ela bufou antes de responder: