Sofia atravessou a rua ao cair da tarde. Pontual, Adolfo a esperava no lugar combinado. Naquela noite ela decidira confidenciar o segredo que a atormentava:
— Há um cisne dentro de mim.
Adolfo não disse uma palavra, e Sofia prosseguiu:
— Você não o vê? Ele prometeu que ficaria visível.
Diante do olhar imperturbável daquele homem, Sofia — ainda mais ansiosa — começou a andar de um lado para o outro. Agitada, ela remoía sua aflição:
— O cisne me enganou. É isto! Ele quer que você pense que eu fiquei louca.
Adolfo foi breve:
— Eu acredito em você.
— Mesmo sem vê-lo?
— Claro.
Sofia estava preparada para outras reações. E estranhou a confiança cega do namorado. Pela primeira vez, em dois anos de relacionamento, ela sentiu medo de Adolfo. Naquele exato instante, Sofia ouviu a voz do tal cisne: