Horácio surpreendeu a secretária ao chegar antes do previsto no escritório. Judite sorriu, sem graça, despedindo-se da irmã ao telefone. Por um instante, o detetive parou na porta de sua sala, e de costas para a funcionária, disparou:
— Preciso de um café.
— Vou levar uma xícara agora mesmo.
Ele corrigiu:
— Traga o bule.
Uma hora depois, Horácio estava diante de seu novo cliente: o senhor H vestia roupas brancas e a julgar o visível abatimento em seu semblante, aquele homem não deveria ter dormido nos últimos dois dias. Sem rodeios, o médico contou sua história. Há seis meses ele perdera a esposa num acidente de carro. Ao desfazer-se dos objetos de sua mulher, descobriu uma série de cartas que ela recebera do amante. O senhor H queria saber quem era aquele homem.
Três semanas mais tarde, Horácio entregou ao seu cliente a ficha completa do tal sujeito: quarenta e dois anos, arquiteto, casado e sem filhos. As fotos do casal estavam espalhadas sobre a mesa. O médico observou uma a uma, prestando particular atenção à mulher do arquiteto. Ela parecia feliz ao lado de seu marido infiel. O senhor H sorriu satisfeito.
— Que bela esposa! Será que ela gosta de cartas de amor?