Ela entrou na sala do detetive sem ser anunciada. Judite tentara impedir, mas a mulher ignorou completamente a secretária. Enquanto observava a senhora L acomodar-se na surrada poltrona em frente à sua escrivaninha, Horácio fez um gesto para Judite sair e fechar a porta. A cliente abriu a bolsa, e retirou um cigarro do maço quase vazio:
— O que o senhor está esperando?
Horácio apontou para a caixa de fósforos em cima da mesa. E a senhora L insistiu:
— Eu enxergo muito bem.
O detetive não se moveu. Contrariada, ela bufou antes de pegar o isqueiro dentro da bolsa, e acender o cigarro. A fumaça ainda saía de sua boca quando a mulher disse por que estava ali. Casada há quinze anos com um homem dedicado ao trabalho e à família, a senhora L sempre nutrira uma profunda desconfiança em relação ao marido. Ao longo do tempo sua convicção aumentara. E agora era uma certeza: aquele homem escondia algo.
Durante um mês Horácio seguiu todos os passos do sujeito, e não encontrou uma conduta sequer que pudesse comprometê-lo. Numa tarde abafada, o detetive entregou o relatório para a senhora L. Após minuciosa leitura, a mulher exclamou com raiva:
— O senhor não descobriu nada!
— A senhora leu o relatório. Seu marido é corretíssimo.
Inconformada, a senhora L retrucou:
— Corretíssimo? Ora! Existe algo mais suspeito do que isto?