A senhora B entrou na sala de Horácio aos prantos. O detetive tentou acalmar sua cliente, e pediu à Judite que trouxesse uma jarra com água gelada e dois copos. Naquela tarde o calor estava infernal. A mulher soluçava quando a secretária deixou a bandeja sobre a escrivaninha.
A cliente tomou o primeiro gole mantendo o olhar fixo em Horácio. O copo tremia em suas mãos. Um pouco da água escorreu pelo canto de sua boca:
— Ele me traiu?
O detetive entregou à senhora B uma pasta verde. Ali estavam as fotos e o relatório com todos os passos de seu marido. O sujeito tinha tantas amantes que Horácio imaginara ter investigado o harém de um sultão.
Ao ler o número de mulheres, a senhora B soltou um gritinho:
— Doze?!
Diante da confirmação silenciosa de Horácio, a cliente parou de chorar. Não havia mais o menor vestígio de lágrimas em seus olhos no momento em que ela terminou a leitura do relatório. Com a papelada ainda nas mãos, a mulher perguntou:
— O que o senhor acha disto?
Horácio poderia dizer muitas coisas, mas preferiu ser lacônico:
— O importante é o que a senhora acha.
Após um longo suspiro, a senhora B parecia distante:
— Sabe de uma coisa, senhor Horácio? Vou fazer de conta que este dia nunca existiu. Confesso que eu tinha muito medo de que houvesse uma mulher. Eu disse uma! Mas doze?!