Horácio examinou o cartão de visitas que o senhor D colocara sobre sua escrivaninha. Nele estava escrito o contato de outro detetive particular. O novo cliente de Horácio havia encontrado o tal cartão ao vasculhar a agenda de sua esposa. No dia seguinte, ela teria um encontro marcado com o investigador.
Por um breve instante o senhor D interrompeu o relato, e tirou um lenço do bolso. Sua testa estava molhada de suor. Sem disfarçar o desconforto, o cliente contou que há dois anos mantinha um caso amoroso e, desde o último mês, passara a ser assombrado pela suspeita de que a mulher desconfiava dele.
Aquela seria a primeira vez em que Horácio seguiria não apenas a esposa de um cliente, mas o detetive contratado por ela. Durante duas semanas, ele acompanhou de perto os passos de seu colega. De volta ao escritório, o senhor D mal conseguia conter a ansiedade. Quando Horácio mostrou as fotografias de um casal, o cliente disse:
— Eu nunca vi estes dois.
Horácio retirou outra foto de um envelope azul colocando-a sobre a mesa. E então o senhor D pôde ver o mesmo homem das outras fotografias, desta vez, abraçado à sua mulher. Desconfiada de que estivesse sendo traída pelo amante, a esposa do senhor D recorrera aos serviços do tal detetive do cartão.