Uma cirurgia sem maiores complicações obrigara Judite a fazer repouso naquela semana. Horácio detestava abrir o escritório. Se dependesse de sua disposição, o expediente nunca começaria antes das onze horas da manhã. No entanto, a nova cliente do detetive pedira para ser atendida às sete.
Se, por um lado, a história da senhora C não era diferente dos relatos que Horácio estava cansado de escutar, por outro, o grau de sofisticação daquela mulher a distinguia de todas as outras clientes. Casada há quinze anos com um empresário que concorreria nas próximas eleições ao cargo de deputado federal, a senhora C desconfiava que o marido tivesse outro relacionamento.
Numa tarde escaldante, Horácio entregou o relatório e as fotografias do caso. Com uma expressão indecifrável no rosto, a senhora C leu toda a papelada que confirmava sua suspeita. Por um momento a mulher voltou a analisar uma das fotos. Horácio tentara ver qual delas teria despertado a atenção especial de sua cliente, mas não conseguiu identificar.
Antes de sair da sala, a senhora C falou num tom de voz aveludado:
— O senhor é um ótimo fotógrafo. Tenho certeza de que estas imagens farão sucesso no escritório do adversário político do meu marido.