Judite nunca imaginaria que ser uma mulher desinteressante pudesse se transformar em uma vantagem: passar despercebida pelos lugares aumentava muito sua liberdade de movimento. A secretária aspirante a detetive teve que se esforçar para que o garçom da cafeteria a notasse ali na mesa ao lado de Pier Paolo e Eva. Quando o funcionário veio atender seu pedido, Judite não titubeou:
— Café com grappa.
A secretária sempre quisera experimentar a cachaça de uva. Em pouca quantidade e misturada ao café, a aguardente não atrapalharia sua concentração. Sentindo que estava num paraíso, Judite tomou o primeiro gole e, em seguida, deu um longo suspiro. Quem sabe, um gentil cavalheiro cruzasse seu caminho na Itália, tornando a aventura ainda mais perfeita. O som da gargalhada de Eva interrompeu o doce devaneio: hora de prestar atenção àquela dupla.
O alegre casal conversava nos dois idiomas, alternando o italiano e o português. Em alguns momentos, o conde misturava tudo na mesma frase. Judite ouvia claramente o diálogo. Pier Paolo acabara de revelar uma surpresa à sua noiva: na manhã seguinte, eles sairiam de San Gimignano seguindo em direção à Riviera Italiana.
Eva parecia animadíssima ao repetir o nome da cidade onde permaneceriam por mais tempo:
— Sanremo!
Judite vira num filme: ali funcionava um cassino. Ponto turístico, a charmosa cidade à beira da praia, localizava-se perto da fronteira com a França. Os amantes do pôquer e da roleta encontravam em Sanremo um lugar agradável para arriscar a sorte.
Quando a secretária — sorrindo — entrou novamente no carro, Horácio sabia que fizera a coisa certa ao trazê-la. Satisfeita com sua atuação como espiã, Judite contou o que escutara. Ao tomar conhecimento dos próximos passos de Pier Paolo e Eva, Martha resmungou, pensando no custo das despesas:
— Neste ritmo, aquela biscate ainda vai torrar todos os meus dólares.
NOTA DA AUTORA: Para melhor entendimento da trama sugiro a leitura dos episódios anteriores numerados por capítulos.