Os médicos a deixaram no quarto. Por enquanto não haveria mais perguntas: a paciente precisaria descansar. Ela chegara desmaiada ao hospital, carregada por Horácio. Quando recobrou a consciência, a mulher não sabia quem era nem o que acontecera.
Questionado pela equipe médica, o detetive alegou ter sido contratado pela senhora Y que suspeitava das traições do marido. Naquela noite, ele flagrara o tal sujeito entrando num hotel frequentado apenas por prostitutas que atendiam ali seus clientes. O fulano estava acompanhado por duas mulheres. Uma delas era justamente aquela que Horácio viria a socorrer. Meia hora mais tarde, esta mulher saíra correndo do hotel. Seu rosto estava ensanguentado. Ao chegar à calçada, ela perdera os sentidos.
Horácio manteve sigilo a respeito de um detalhe da história: no instante em que tentara ajudar a mulher, ele a reconhecera. Era Eva. Na manhã seguinte, o detetive retornou ao hospital. O rosto da mulher, que voltara a usar os cabelos ruivos, estava quase todo coberto pelos curativos, mas era possível ver seus olhos embotados.
Contrariando a orientação dos médicos, Horácio perguntou:
— Você não se lembra de nada?
Um tolo notaria a indiferença no tom da resposta:
— Acho que sempre fui assim.
— Sem memória?
Eva fechou os olhos. E após um curto silêncio, a mulher misteriosa foi ainda mais breve:
— Vazia.
Na saída do hospital, enquanto caminhava em direção ao carro, Horácio pensou na ironia do destino: talvez ninguém mais pudesse dizer, afinal, quem era Eva. Nem mesmo ela. Caso encerrado.
NOTA DA AUTORA: Para melhor entendimento da trama sugiro a leitura dos episódios anteriores numerados por capítulos.