Ela não tinha vontade de voltar para casa. Talvez por isto Júlia fosse sempre a última funcionária a sair do escritório. Mesmo sem fome, ela se obrigava a mastigar a comida insossa do pequeno restaurante, no meio do caminho entre o trabalho e seu apartamento.
Sentada perto da janela, Julia passava horas observando as pessoas. Após o jantar, ela não se movia. O dono do estabelecimento não estranhava mais. E deixava outra xícara de café e dois biscoitinhos em sua mesa. Naquela noite, porém, ela saiu do restaurante, antes que o proprietário exercitasse a habitual gentileza.
A chuva forte dera uma trégua. Enquanto caminhava pelas ruas molhadas, Júlia sentiu a aproximação de alguém. Ao invés de apressar-se, ela seguiu ainda mais lentamente. No exato instante em que o desconhecido passou ao seu lado na calçada, Júlia segurou o braço do sujeito.
O homem virou-se surpreso:
— Você me conhece?
Sem acreditar no que acabara de fazer, ela disse:
— Não, mas eu gostaria muito.
Ele não permaneceu em sua vida por um longo tempo, nem diluiu seu vazio, mas a partir daquele encontro, Júlia não seria mais a mesma mulher.