Ao longo dos anos, Idalino nutrira o desejo de escrever um romance. Morador de uma rua movimentada, ele passava as noites na janela de seu quarto, tentando inventar histórias para cada um dos vizinhos. Porém as tramas, sem o menor fôlego, encontravam sempre o mesmo destino: aumentar a pilha de papéis amassados no lixo.
Naquele fim de tarde, Idalino observou o novo morador do prédio em frente ao seu. Sentado diante de uma pequena escrivaninha, o tal sujeito — completamente concentrado — escrevia sem parar. Curioso, Idalino pegou seu binóculo. Com a ajuda do objeto ele conseguia distinguir as diversas expressões no semblante do vizinho: raiva, tristeza, medo e alegria. Então concluiu: o homem deveria ser um autor de livros. Talvez fossem romances, como ele tanto desejava.
Obcecado por aquela cena, Idalino vigiava o fulano e, nos intervalos, começou a escrever a história de um sujeito que deixara de lado sua própria existência para fiscalizar a vida dos outros. O sucesso do livro veio rápido. Apesar da fama repentina, Idalino não conseguiu mais escrever uma linha sequer desde que o vizinho da frente se mudara.