Todas as quartas-feiras, as quatro irmãs se posicionavam em frente ao muro de concreto. A mais alta das mulheres abria uma pequena pasta cinza e de lá retirava a lista de escritores que seriam chamados em ordem alfabética. Do outro lado do pátio, os candidatos aguardavam para mostrar as histórias que não poderiam ultrapassar o limite máximo de um minuto e meio. Ao ouvir seus nomes, os autores davam três passos à frente, e liam suas criações, diante do olhar severo das juradas que — invariavelmente — detestavam todos os enredos.
As análises — ora ácidas, ora ásperas — deixavam os escritores enfurecidos: pesados palavrões ecoavam pelo pátio. Naquela tarde, porém, um dos candidatos reconheceu o valor da crítica, destacando a honestidade das irmãs. No exato instante em que as quatro mulheres receberam o primeiro elogio da história daquele júri, houve um violento terremoto. E o muro de concreto ruiu, soterrando as senhoras. Quando elas se reencontraram no céu, a caçula carregava um livro de citações. Numa daquelas páginas estava a resposta para o trágico incidente. Apontando para uma frase escrita ali, a mulher sentenciou:
— Freud explica.
Curiosas, as outras irmãs leram o tal pensamento atribuído ao pai da Psicanálise: "Diante de um elogio, estamos sempre indefesos".