A noite estava abafada. O movimento do bar diminuíra. Laura caminhou por entre as mesas, sentando-se ao lado de André. Sem a menor pressa, ele levantou os olhos, e viu a desconhecida, que esboçou um sorriso antes de dizer:
— Preciso conversar com alguém.
André ergueu o copo de chope na direção do garçom sonolento:
— Mais dois.
Laura prosseguiu:
— De onde eu venho ninguém mais abre a boca.
Calado, André voltara a olhar para o longo copo à sua frente. A espuma da bebida deixara uma fina linha branca próxima à borda. O garçom trouxe a cerveja. E os dois beberam em silêncio até que Laura falou:
— Eu queria tantas coisas, mas acho que fui me esquecendo disto.
Era o começo de uma longa história. André escutou tudo sem desviar os olhos do copo ora cheio, ora vazio. Quando Laura finalmente concluiu seu relato, ele foi monossilábico:
— É. Acontece.
Decepcionada, a mulher retrucou:
— Isto é tudo que você tem a me dizer?
André lembrou-se do tempo em que parecia uma coleção ambulante de livros de autoajuda: as palavras se encaixavam perfeitamente no caso. Mas ele mudara. A vida era tão simples que suas respostas perderam o sentido. E não couberam mais dentro dele. Então André disse a única coisa que soaria verdadeira naquele instante: