Haroldo quase desapareceu atrás da imensa pilha de papéis colocados sobre a mesa. Maria Luíza não estava brincando. Ao longo dos vinte anos de casamento, ela escrevera centenas de contos. Antes de mostrá-los ao mundo, pediu a opinião do marido. Haroldo deu um longo suspiro. Precisaria de coragem para encarar a leitura. Talvez se pedisse o divórcio. Não. Ele não teria a menor paciência para começar tudo outra vez. Restava ler. Desanimado, abriu uma das pastas. Logo na primeira página, Haroldo encontrou uma mulher diferente daquela com quem havia se casado. Dona de uma ironia fascinante, Maria Luíza prendera sua atenção de tal forma que ele nem sentira o tempo passar. Algo inédito quando se tratava de sua esposa. No final das histórias, completamente seduzido, Haroldo não se conteve:
— Maria Luíza, você é muito melhor quando escreve!