Os olhos da senhora J percorreram a sala com certo desdém, enquanto Horácio confirmava os dados pessoais de sua nova cliente: uma mulher bonita e bem vestida. Girando a caneta entre os dedos, o detetive pediu que ela contasse sua história.
Casada há oito anos com um romancista, desde o início da vida conjugal, o marido revelara-se mais interessado em escrever seus livros. O vazio não demorou a se instalar entre eles. Horácio quis saber por que ela não pedira o divórcio. A senhora J disse apenas que ainda não era hora para pensar nisto.
No inverno do ano anterior ela iniciara um relacionamento com um artista plástico italiano, que voltaria a morar em Roma em três semanas. A cliente desejava contratar Horácio para que o detetive registrasse os últimos encontros do casal. As fotos teriam as mesmas características de mais um caso de adultério investigado pelo seu escritório. O artista plástico aceitara colaborar com a farsa dos flagrantes porque deixaria o país em alguns dias.
Horácio ainda tentava entender o plano de sua cliente:
— O que a senhora fará com as imagens?
A senhora J pretendia colocá-las dentro dos livros que seu marido escrevera. Seria apenas uma questão de tempo até que ele abrisse um deles, e encontrasse as fotografias com os seguintes dizeres: "Enquanto você criava suas histórias, eu vivi as minhas.".