Sem a menor pressa, ele tomou mais um gole de café e disse:
— Não. Eu não enlouqueci.
Do outro lado da mesa, o amigo parecia preocupado:
— Cara, você ouve vozes.
Exibindo uma calma invejável, o sujeito retrucou:
— O que está acontecendo não tem nada a ver com loucura. Os doidos entendem as vozes que escutam. No meu caso, elas falam outra língua. Não consigo compreender nem uma palavra.
Naquele instante, o homem parou de falar e deu uma olhada ao redor. Todas as outras mesas da velha cafeteria estavam vazias. Ainda assim, baixou o tom de voz ao dizer:
— Tenho certeza que é coisa do outro mundo. Mas aposto que houve um engano. Essas vozes erraram o alvo. Mais alguns dias, vão se dar conta da confusão e desaparecer.
Perplexo, o amigo perguntou:
— Como você pode saber disto?
O sujeito tomou o último gole de café, acendeu um cigarro e após uma longa baforada, concluiu:
— Se as vozes quisessem mesmo falar comigo, tinham colocado legenda na minha cabeça.