Numa tarde gelada, Horácio recebeu sua nova cliente. Judite deixara duas xícaras de café em cima da surrada escrivaninha. Enquanto tomava a bebida quente, Alice observou as pastas coloridas empilhadas dentro de um móvel envidraçado. Quantos casos aquele detetive teria desvendado? O dela estaria entre eles?
Horácio quebrou o silêncio:
— O que a trouxe aqui?
Alice sentiu a face corar e não poderia parecer mais ridícula. No entanto seria ainda pior desistir e sair de lá correndo. Visivelmente embaraçada, ela respondeu:
— Preciso encontrar uma pessoa, mas perdi o contato.
O detetive tentava entender a razão do desconforto da cliente:
— Por que você não me conta tudo direitinho?
Contar tudo? Não. Ela não estava em um divã para falar do amor por Antonio. Nem das coisas que fez até afastá-lo de sua vida. Era estranho demais não ter a menor ideia de onde encontrar o homem que amava. Bastava dizer o essencial:
— Aqui tem uma foto de Antonio, as informações que disponho sobre ele e também um cheque no valor pedido por sua secretária.
Alice colocou um envelope sobre a mesa. E Horácio conferiu o conteúdo, antes de retrucar:
— Eu aviso se tiver alguma novidade.
Ao voltar para casa, ela sentiu um misto de excitação e medo. Seis semanas se arrastaram e, então, Alice retornou ao escritório de Horácio.
O detetive não perdeu tempo:
— Antonio não mora mais na cidade, mas vem com frequência pra cá a trabalho.
Horácio entregou à cliente uma pasta azul com o relatório da investigação e o novo contato de Antonio.
— Não sei como agradecer.
— Ainda é cedo pra isso.
Alice não entendeu a ironia e perguntou:
— O que quer dizer?
O detetive levantou-se da velha poltrona e enquanto estendia a mão para Alice, concluiu:
— Depois de reencontrar o cara, você decide se deve me agradecer ou não.
NOTA DA AUTORA:
ESTE CONTO FAZ PARTE DE UMA SÉRIE QUE COMEÇA COM O EPISÓDIO "A CASA DOS SUSSURROS". PARA MELHOR COMPREENSÃO DO ENREDO, LEIA A SEQUÊNCIA DOS CONTOS.