Na masmorra do castelo, a rainha Invídia se exercitava, arrastando as pesadas correntes presas aos seus pés, quando Lucrécio, o fiel criado, tocou um pequeno sino vermelho. No mesmo instante, a rainha soltou um grito de alívio, antes de disparar:
— Esse exercício é ridículo, mas funciona.
Lucrécio ofereceu uma toalha felpuda a Invídia, que enxugou o suor do rosto.
— O convidado já está aí?
Ao longo dos últimos dois anos e meio, a tal pergunta se repetia. No entanto, não havia mais ninguém virtuoso nas redondezas, que Invídia pudesse cobiçar as qualidades. Naqueles tempos sombrios, a estupidez tomara conta dos habitantes do reino. Esta trágica situação atingira profundamente a rainha. Invídia sofria de uma espécie de fome no olhar, embora o vazio estivesse em sua alma.
— Hoje, Vossa Majestade, não terá compromisso na agenda real.
Invídia deu um berro deixando Lucrécio acuado.
— Maldita decadência deste reino. O que meus súditos desejam? Matar de fome meu olho gordo?
O serviçal arriscaria o pescoço ao sugerir:
— Vossa Majestade pode invejar minha lealdade infinita.
Invídia jogou a toalha no chão e fez um sinal para que Lucrécio retirasse as correntes de seus pés. Mais tarde, em seus aposentos, as palavras do criado ainda ecoavam dentro dela. Diante do espelho de cristal, a rainha resmungou:
— Talvez a lealdade de Lucrécio seja tudo o que me resta.
Invídia fez uma careta, engoliu a raiva e concluiu: