No gabinete presidencial, a noite seria agitada. A equipe de televisão estava pronta para colocar a entrevista no ar. Ary Cardos, presidente da Absurdia, encarou a jornalista enquanto ela indagava qual seria a melhor política na educação. Sem titubear, o presidente respondeu:
— Você tem ideia de quantos livros ficam embolorados nas estantes? Ninguém tem mais tempo pra ler. Absurdia precisa de pá, enxada e anzol. Comigo é assim: menos blá-blá-blá e mais pá.
A segunda pergunta abordava a corrupção. O tema se repetia em todas as entrevistas como um atentado à paciência. Ary Cardos respirou fundo para conter a vontade de soltar um palavrão.
— Eu mando investigar as denúncias sem fundamento. As outras, não. Afinal, não sou louco nem santo.
— O que o senhor tem a dizer sobre a economia?
Havia um estranho brilho nos olhos do presidente quando ele disse:
— O segredo da economia é desejar pouco. Quanto menos coisas você quer, mais economiza.
Os integrantes da equipe de televisão se entreolhavam a cada resposta. A jornalista prosseguiu:
— A área da saúde tem sido o seu maior desafio?
Após um longo silêncio, o presidente retrucou:
— As pessoas ficam doentes porque não sabem viver. Essa é a verdade que ninguém tem coragem de falar. Além disso, ainda não existe uma fórmula da saúde perfeita. Quem descobrir vai ganhar rios de libras absurdianas.
Antes que a repórter fizesse outro questionamento, Ary Cardos levantou-se:
— Agora chega de perguntas. Sou presidente da Absurdia e não um oráculo.
Mais tarde, naquela mesma noite, Ary Cardos sonharia com a mirabolante fórmula da saúde perfeita. O elixir seria comercializado no segundo mandato de seu governo.