Depois que Antonio saíra de vez de sua vida, Alice teve um sonho que a inspirou a escrever seu primeiro romance. Entre um capítulo e outro, a saudade do homem que amara parecia se diluir. Quando colocou o ponto final na história, Alice passou em sua livraria predileta. E ficou ali, diante dos livros, pensando se um dia seu romance seria exposto.
— Sonhando acordada?
Por um brevíssimo instante, ela teve a sensação de que conhecia aquela voz. Ao virar o rosto, deparou-se com um desconhecido. O homem sorriu, antes de emendar:
— Os livros fazem isso com a gente.
Alice encarou o estranho enquanto ele prosseguia:
— Eu esqueço de tudo quando estou aqui.
Em outros tempos, ela teria deixado o sujeito falando sozinho. No entanto, como quem pensa alto, Alice respondeu:
— Quem me dera esquecer.
O homem empurrou alguns exemplares na prateleira para acomodar o livro que estava em suas mãos. E então retrucou:
— Uma história só termina quando se abre espaço pra outra.
Alice imaginou que o estranho colecionava frases para todas as horas. Talvez, por isto, se naquela tarde de inverno, alguém dissesse que o tal sujeito acabara de entrar em sua vida, Alice daria uma sonora gargalhada. Porém, meses depois, quem risse por último, se divertiria ainda mais.