DOLCE VITA
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Meu Diário
29/04/2009 21h51
Aquarela Humana








Por mais que a vida mostre o quanto estou longe de entendê-la, uma das caminhadas mais difíceis não é ser melhor, mas aceitar ser o que se é.


Vivo em duelo contínuo comigo. Cobro um grau de humildade que não tenho. No instante seguinte, uma excelência nunca atingida.


Muitas vezes, a vida em pólos opostos não encontra nem mesmo meio sentido. Os erros se tornam irreversíveis. A vida pesa pela ausência do entendimento do que é, afinal, a condição humana.


E de tanto pipocar entre os extremos, com a bela desculpa de ser intensa, aos poucos, distanciei-me de mim.


Entre o que sou e gostaria de ser - para muito além do "bem" ou "mal" disso - existe uma pessoa que tenta ser o que, de fato, é.


Nessa eterna descoberta, o pensamento mais parece uma sala de espelhos que reflete minha imagem tantas e tantas vezes.


Em qual delas estarei contida?


Qual conseguirá exibir minha natureza, desfilar meus defeitos e limitações, sem a fantasia infantil e pouco generosa comigo, de que o mundo acabe por isso?


Onde meu erro não se transforme em catástrofe incontornável, mas quem sabe, até em "meio acerto" que leve a um confronto com o que é possível em mim.


Em qual delas, o que tenho de melhor será apenas o valor que não se mede nem se exalta?


Uma vez reconhecido, o convívio passa a ser natural. Então, escapa da vaidade voraz, insaciável e irreal, por se alimentar justamente da insatisfação.


Algumas das tristezas e pesos que carregamos na vida, parecem intimamente ligados à própria incapacidade de nos conceber humanizados. 


E o que seria humanizar-se?


Não posso responder por ninguém além de mim. O que sei, diz respeito ao meu caminho. Mergulhei em um período de turbulência e oscilava entre os extremos. Em alguns momentos, sentia que era invisível (não reconhecida). Em outros, exposta (numa espécie de berlinda).


Entretanto, não estava, genuinamente, em nenhuma das pontas extremadas onde a vida é monocromática. As cores da minha personalidade são reflexo do encontro comigo.


E o mundo oferece outros tons. O azul pode ser piscina, celeste, anil, turquesa, petróleo, marinho ou noite. Assim como todas as outras cores que pincelam meu mundo interno com suas nuances.


Então, humanizar, a meu ver, é a possibidade de integração da inteligência e o afeto. O eixo de uma nova existência, onde as cores simbolizam a aquarela da alma e a pessoa transita ao redor do que é possível ser. 


Há muito tempo atrás, descobri que o termo "religião" significa "religar". Quando nos aproximamos do que, de fato, somos e podemos ser, há uma religação.


Talvez por isso, exista algo divino em humanizar-se.
Publicado por Dolce Vita
em 29/04/2009 às 21h51
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