O expresso da meia noite passou ao lado das pontes de Madison com a dama do lotação no comando da locomotiva. No primeiro vagão, o cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante falavam sobre a vida dos outros sem mencionar, por pura inveja, o fabuloso destino de Amélie Poulain.
Próxima ao grupo, a secretária procurava um lugar silencioso para ler o diário de Bridget Jones: aquele sim era o diário de uma paixão. A primeira página trazia a dedicatória: “Para todos os garotos que já amei, o ano passado em Marienbad”.
A secretária esboçou um sorriso:
— Ah! Garota exemplar, me chame pelo seu nome no clube dos cinco. A época da inocência é coisa do passado. Que venham as ligações perigosas.
Em outro vagão, noivo neurótico, noiva nervosa, doentes de amor, discutiam entre gritos e sussurros, quando ela disse:
— Ou você para agora com isso ou conto tudo sobre a minha mãe desde nasce uma estrela até 2001 uma odisseia no espaço.
Os estranhos vizinhos, Fanny e Alexander, ao ouvirem a briga do casal improvável começaram a repetir sem parar:
— E o lado bom da vida? E o lado bom da vida? E o la-do bom da vi-da?
Eu, você e todos nós também gostaríamos de saber, mas voltando à história oficial…
No sinistro vagão da garota do trem e o último dos moicanos o clima era de amor à flor da pele e beijos proibidos. Mas, num piscar de olhos bem fechados, Blow-up, depois daquele beijo, a trama fantasma: eles se transformaram em amantes eternos de M, o Vampiro de Dusseldorf e da Bruxa de Blair, que não se cansava de defender as vantagens de ser invisível. (500) dias com ela provariam o contrário.
Da janela do seu vagão era possível ver as primeiras luzes da cidade surgirem no horizonte perdido. Hora de dizer:
— Adeus, Lenin. A fraternidade é vermelha.
Bem longe dali, no morro dos ventos uivantes, alguém ouviria uma voz responder:
— Adeus, minha rainha. Vou guardar para sempre o sétimo selo de sua coleção.