Catarse
Embora não pareça à primeira vista, minha natureza é reservada. O que induz meu interlocutor ao erro porque projeto uma imagem que parece não se enquadrar em mim.
Muitos podem supor, pela vibração das sonoras gargalhadas, que sou extrovertida, segura e aberta.
Meu pai costumava me chamar de "carcamana". Apesar de neta de libaneses, quem sabe, "mezzo napolitana, mezzo britânica".
Não sou nem uma coisa, nem outra. E ao mesmo tempo, trago um pouco dessa Torre de Babel, uma espécie de nações unidas na alma.
Talvez eu pudesse ser uma pessoa extremamente comum, desprovida de qualquer interesse específico, superficial até, não fosse meu "lado B".
Descubro "lados B" a todo tempo. E isso me intriga, encanta, assusta e muitas vezes, nem sei que nome dar ao que acontece.
Acho engraçado imaginar meu mundo interno como uma gaveta desarrumada que ao organizar me faz ver o que julgava perdido.
Vasculho as peças misturadas e lá está! Uma parte de mim que não via há tanto tempo!
E ali! Aquela lembrança que me retratou um dia surge como uma echarpe colorida envolta em papel de seda.
Há que ter cuidado ao embalar os nossos cacos.
Um dos comentários que recebi, em um dos meus textos, lançou luz à idéia desta "gaveta desarrumada".
A intenção do comentarista era escrever "catarse", mas por um lapso abençoado, emerge o erro que me conduziu à resposta: "catar-se".
É isso! A verdade pode ser simples: procuro "catar-me".
Meus cacos testemunharam tantas perdas. Sigo e recolho um a um. Não esqueço o que perdi.
No entanto, preciso respirar outra vez. Emergir e recriar a mim mesma.
E ao contar este "catar-se", mais uma vez, a catarse se dá!
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 17/04/2009
Alterado em 17/04/2009