Labirinto
Capítulo 2
Na semana seguinte, a irmã do arquiteto se dispôs a falar. Claudia, treze anos mais jovem e totalmente diversa de Antonio, era apegada aos pais, separada pela segunda vez e no momento morava na mesma residência do casal.
Paula não precisou questioná-la. A irmã aproveitou o espaço para exibir sua teoria a respeito do arquiteto:
- Antonio é genial. Nunca brigamos, mas acho que dei tantos motivos que ele achou mais inteligente me ignorar. Meu irmão tem um senso de economia interessante. Não tem tempo a perder com quem não pode medir forças. Eu nunca fui um exemplo de autonomia. Acho que por ser filha temporã, fiquei abusada mesmo. Tive pais mais dóceis do que ele. E com isso, todas as regalias. Sou quase uma netinha ao invés de filha. E meu irmão assistiu tudo calado. Via as regras serem mais duras para ele, enquanto para mim tudo sempre foi tão simples. O que posso esperar dele?
A escritora arriscou:
- Distanciamento?
A irmã riu antes de responder:
- Isso é o que ele diria: distanciamento. Um termo tão elegante! Antonio é fascinado por quem tem classe. Cuidado! Ele pode achar você perfeita!
Paula interrompeu, desta vez em tom mais formal:
- Podemos prosseguir?
- Claro. Desculpe. Meu mano tem fama de sedutor. Vi dezenas de mulheres ligarem aqui em casa quando ele era mais jovem e morava conosco. Eu era uma criança e me divertia ao ouvir na extensão.
- Pessoas interessantes são naturalmente sedutoras.
- Nada em Antonio é natural. Se quiser entendê-lo, aceite isto. Meu irmão sabe exatamente que passo dará, o sentido e a intensidade. Talvez ele tenha escolhido a Arquitetura porque projeta tudo na sua vida.
- Você quer dizer calcula?
- Acho que sim. Nunca vejo Antonio espontâneo... Bem, talvez com ela...
- Ela?
- A grande paixão da vida dele. Uma artista plástica que ele conheceu no último ano da faculdade. Garota alegre e ao mesmo tempo, elegante. O sonho de consumo dele, mas sabe como é... Era jovem demais e inconstante. Deixou Antonio com gostinho de quero mais e acho que no fundo ele nunca se recuperou... – e Claudia parecia ter a chave do enigma ao concluir: por isso, ele se especializou em seduzir! Alguém que ele desejava muito não o quis mais! Essas conquistas devem ser...
Paula completou:
- A história de Don Juan?
- E não faz sentido? Veja! Um homem que sempre teve todas que desejou e de repente, esbarra em alguém realmente interessante, muito próxima da fantasia dele que desaparece como entrou: fulminante. Meu irmão teve que conviver com a ausência dela e a buscou em todos os rostos que passaram por sua vida. Seduzir, neste caso, é quase uma forma de estar perto daquela mulher.
- É no mínimo uma teoria intrigante. Teu irmão me diria o que pensa sobre isso?
- Antonio? Nunca! Nem ouse!
- Mas é uma biografia autorizada. Ele sabe que estou entrevistando a família, amigos, amores.
- Ele sabe. Você sabe. Eu sei. Mas quem te disse que isso faz alguém como meu irmão admitir qualquer coisa? Antonio não gosta de quem o entende.
- Finalmente uma coincidência: tua mãe disse isso!
- O que já seria suficiente para você não levar em consideração. O que mãe fala de filho, não se escreve!
Paula sentiu-se tola diante da sonora gargalhada que se seguiu àquela observação, mas não havia tempo para isso. A tal artista plástica iria atendê-la em uma hora.