DOLCE VITA
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Este conto é dividido em dez capítulos: 1 ao 9 e Epílogo.
Todos publicados.





Labirinto

  Capítulo 6





Thiago a recebeu em seu escritório na hora do almoço. Direto, iniciou a conversa:

- Falei com Antonio e ele se sente confortável com essa entrevista. Por isso, e só por isso, aceitei dá-la.

- Ele se sente confortável? Interessante, pelo que ouvi antes parece que ele se incomoda.

- Antonio é livre demais para isso. Ele simplesmente não se importa.

- Você o descreveria como uma pessoa auto-suficiente o bastante para não dar importância ao que pensam dele?

- Quer uma resposta imparcial?

- Não estou pedindo imparcialidade. Apenas sua opinião.

- Sabe, acho muito difícil alguém dizer que conhece Antonio. Por mais que você conviva, acompanhe e compartilhe, eu vejo apenas uma ou algumas das inúmeras facetas que ele tem. Ele é complexo e fechado. Não sei se consigo enxergá-lo tão bem a ponto de descrevê-lo.

- Poderia tentar?

Thiago sorriu. A pergunta soou tão suave que o fez responder:

- Ele é um sujeito normalmente calado. E mesmo quando fala, não se empolgue e acredite que passará a se abrir. Antonio é mais legível na ação, em movimento.

- Estes movimentos têm tradução?

- Sinceramente, não sei.

- Poderia arriscar alguma?

- Acho que Antonio gosta de ser o que é e tem domínio sobre o ambiente em que está. Nada passa despercebido. Ele possui uma atenção que flutua por todas as coisas e não se detém em nada. É impressionante. Admiro a precisão dele. E a generosidade.

- Você é a primeira das pessoas entrevistadas que falou sobre isso.

- Tem sentido. Sou testemunha e beneficiário. Meus maiores clientes aqui no escritório vieram pelas mãos de meu grande amigo. E isso, depois de passar por uma dificuldade extrema nos negócios. O que só aumenta a minha gratidão. Na verdade, ninguém sabia disso até agora. Antonio detesta fazer propaganda de si mesmo.

- Isto é modéstia?

- Penso que não. Ele é muito consciente de seu valor para ser modesto.

- Privacidade?

- Provavelmente. Muito do prazer que ele retira da vida vem dessa satisfação que ele insiste em não dar aos outros. Uma espécie de realização contida em si mesma.

- Uma pessoa livre?

- Depende do que cada um considere liberdade.

- Independente?

- Alguém é?

- Tem razão. Todos estão sujeitos a limites.

- E limitações, mas Antonio transita com a mesma desenvoltura em campo aberto ou terreno minado.

- Esta frase já daria uma tese.

- Não perca seu precioso tempo com teses sobre Antonio. Ele é mutável demais. Sua tese ficaria obsoleta de um dia para o outro. E não se apresse em pensar que isto significa incoerência. Ele simplesmente não tem o menor problema em mudar de idéia. Se disser algo hoje é porque realmente acredita ser verdade, mas não se condena ao que disse ontem.

- Deve ser admirável perceber suas nuances.

- Para um amigo, sim. E posso apenas responder como amigo. Talvez as mulheres que passaram pela sua vida não achem o mesmo, ou os pais, a irmã.

- Para cada um deles parece haver um Antonio.

- E de certa forma e de várias maneiras existe, o que torna o perfil psicológico ainda mais interessante.

Paula concordou e agradeceu. A atenção agora se voltava para a ex-mulher dele.

Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 17/04/2009
Alterado em 17/04/2009
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