Este conto é dividido em dez capítulos: 1 ao 9 e Epílogo.
Todos publicados.
Labirinto
Capítulo 7
Como avançar naquele labirinto? Durante meses, a ex-mulher recusou-se a recebê-la, embora não houvesse nenhuma objeção por parte de Antonio. As negociações duraram dois meses. Finalmente, a condição imposta pela entrevistada: cinco minutos para as perguntas. A escritora não resistiu ao imaginar-se como os jornalistas das estrelas de cinema americano na divulgação de seus filmes. O que seria possível perguntar (ou responder) em cinco minutos?
A primeira questão parecia óbvia:
- Por que Antonio autorizou sua entrevista?
Mônica sorriu e disse:
- Porque quis. Não vejo outra razão a não ser esta. Se ele não quisesse, não deixaria. Pode parecer simples, mas nada nele é, a não ser, talvez, o contato físico.
Paula surpreendeu-se com a naturalidade daquela mulher. E prosseguiu:
- Quanto tempo permaneceram casados? Ficaram amigos após a separação?
- Nossa relação durou cinco anos. A amizade é uma coisa complicada, mas possível. Somos leais e por isso a entrevista está acontecendo. Ele detesta deslealdade. Com Antonio a pessoa vacila uma vez só.
A escritora observava o modo franco e despojado de Mônica e tentou traçar um paralelo com o tipo de mulher que esperava encontrar: reservada, discreta e contida. No entanto, nada parecia se encaixar. Ela era aberta e sem pudor.
- O que mais se aproximaria de uma impressão dele?
- Antonio é a mistura improvável de um vulcão e uma planilha. É a resultante destas duas forças. Um homem talhado para aventura desde que esteja no controle. Como isso é possível? Não sei. Ele joga os dados para o alto e sempre deu certo.
- Como vocês se conheceram?
- Na rua. Ele saiu do carro e veio falar comigo na calçada. Eu estava diante de uma vitrine, escolhendo uma sandália. Ele se aproximou e disse: - a de tiras finas e salto alto. Não pense em outra.
- O que você achou dessa aproximação?
- No primeiro instante, a coisa mais boba do mundo. Em seguida, entendi. Ele olhava para os meus pés com a mesma expressão que uma mulher espera para outras partes de seu corpo. E aquilo acendeu o desejo que nunca mais se repetiu. Ele contraria o que seria esperado e isso encanta. E depois, desencanta.
Mônica ria ao terminar a frase e Paula buscava entender qual o sentimento que ela ainda nutria por ele.
- Você deve estar se perguntando o que sinto por Antonio.
A escritora, mais uma vez surpreendida, não dissimulou:
- Sim. Você foi precisa.
Mônica resumiu:
- Admiração e ternura. Pode publicar.
- Existe algo impublicável?
A mulher desviou o olhar para os próprios pés, sorriu e completou:
- Pergunte a ele.