Qual é a graça?
Gosto de escrever textos de humor. E são, invariavelmente, os mais difíceis. No entanto, tenho a impressão que as construções feitas para rir não conseguem o mesmo reconhecimento daquelas que emocionam. O riso não está diretamente ligado à alegria quando pensamos neste gênero, mas em situações e sentimentos bastante diversos.
Fazer rir é um desafio e ao mesmo tempo, um tiro no escuro. Nunca sabemos se aquela frase irá surtir efeito até que aconteça e provoque a reação desejada. Em textos falados é possível observar de imediato se o objetivo alcançou seu alvo. Enquanto nos escritos lidamos com a sensação de não saber o tempo todo. Nem sempre as risadas são comunicadas. E ainda que sejam, pode levar algum tempo. Neste caso, quem ri por último é o autor: de alívio!
As pessoas que se dedicam a olhar o mundo através da janela do humor me parecem talhadas para não vergar. Quando você pensa que estão derrotadas, a piada acontece retirando-as da forca da desilusão ou angústia. Por outro lado, este estilo é crítica. E das mais severas. Nosso lado patético e ridículo elevados a um lugar inimaginável.
Há também nesse universo algo que me encanta. A possibilidade da alquimia. Misturamos elementos e recriamos coisas. Novos sentidos surgem onde nem se imaginava possíveis outras leituras. Sinal de que há sempre uma saída de emergência para aqueles que pensam com graça.
Talvez, o humor seja a liberdade exaltada em sua essência. O pensamento livre flutua e muda o sentido original para dar outro significado a algo. E se este deslocamento for "feliz" (na verdade a palavra seria inteligente), levará o riso onde não havia o menor sinal de graça.
Humor é a vitória da inteligência sobre a dor. O oxigênio do pensamento, onde busco fôlego para prosseguir quando a alma está arranhada demais. E se meus textos não provocarem muitos risos, pelo menos, o mais engraçado (você diria narcísico?) foi feito: serei a única capaz de rir com o que escrevo!
Ultimamente tenho me especializado em piadas com legenda porque sempre acreditei que as pessoas com algum senso de humor, assim como as histórias engraçadas, merecem uma segunda chance.