DOLCE VITA
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                                        Monólogo Impertinente



Entendo o cinema como uma experiência pessoal que é, em última instância, resultado do encontro de duas subjetividades: do espectador e cineasta (inclua-se aqui todos que trabalham pela obra).

Não sou estudante (nem posso me considerar estudiosa) de cinema. Não exerço compromisso profissional algum (acadêmico ou prático) com a Sétima. Falo de cinema como qualquer pessoa. Sou apenas mais uma entre tantas outras que, diante daquela tela, aceita o convite para entrar em outra história, como um observador privilegiado que é capaz de sentir sem estar ali.

E por que penso assim? Creio que todos nós compartilhamos o mesmo idioma: português (pelo menos, tentamos, em época de reforma ortográfica!). Mas nem todos falam a mesma língua. Isso significa que ela será o resultado dos valores e experiências que cada um de nós traz. Por isso as palavras que utilizo podem ser entendidas de uma forma completamente diversa por outra pessoa.

O idioma é o mesmo, mas os sentidos da língua, não.

Em relação às preferências cinematográficas tenho uma posição clara. Gostar ou não de uma obra ou diretor, a meu ver, merece o mesmo respeito. Não valorizo a idéia de um gosto alinhado ao "oficial" (acadêmico ou crítico) que classifique as predileções em categorias aceitáveis ou não.

Não concebo dogmas, portanto, não reconheço heresias (nem hereges) neste campo.

E antes que eu seja lida como uma pessoa que despreza o conhecimento, me apresso em afirmar que todo o conhecimento possível não é suficiente para nos fazer gostar ou não de uma obra de arte. Não estamos falando de equação matemática. Nem de leis. Não há uma relação determinada pela lógica. O que é defeito para um pode ser uma grande qualidade para outros olhos que apreciam algo.

E quem poderá dizer o que é "bom ou ruim"? Os críticos? A história do cinema? E mesmo que o façam, que sentido teria, de fato, além de expressar uma corrente de pensamento, ainda que das mais consagradas? Alteraria a preferência pessoal de alguém? Se é pessoal e portanto, subjetiva, como isso seria possível?

O conhecimento é uma ferramenta essencial e por mais que se aprofunde, ainda assim, não será capaz de estar acima daquilo que provoca a paixão (ou aversão) a uma obra.

Nossas preferências trilham caminhos que podem (e penso que devem) estar conectados ao conhecimento, mas possuem atalhos independentes dele. E através deles a paixão acontece. O conhecimento
pode ser uma ponte sólida, mas a paixão é uma onda arrebatadora.

A paixão pode levar ao conhecimento aprofundado de uma obra de arte e a recíproca é verdadeira. Ainda assim, o que nos seduz está além de um sentido traduzível pelo conhecimento. Existe algo impalpável e indefinível que simplesmente nos liga a uma obra de arte. E é esse encantamento que elege nossas preferências estéticas e artísticas (das mais superficiais às profundas).

Essas idéias podem ser (provavelmente são) uma voz dissonante. Se estou alinhada a algo seria apenas à liberdade de olhar para o cinema da forma como o percebo.

E essa liberdade é possível por muitas razões. Não sou cineasta, professora de cinema nem formo opiniões como crítica da Sétima. Para a alegria (e alívio) de todos!

O humor é o maior responsável por essa liberdade. Quem entra nesse campo não se rende a coisa alguma, simplesmente porque nada é sagrado. Se fosse, não poderia fazer humor porque a noção do sagrado não tolera, nem reconhece, o valor dos pensamentos divergentes.


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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 19/04/2009
Alterado em 23/04/2009
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