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                                                 Secretária 
                                                (Secretary)


Ficha Técnica


Diretor: Steven Shainberg
Elenco: James Spader, Maggie Gyllenhaal, Jeremy Davies, Lesley Ann Warren, Stephen McHattie.
Produção: Andrew Fierberg, Amy Hobby, Steven Shainberg
Roteiro: Erin Cressida Wilson
Fotografia: Steven Fierberg
Trilha Sonora : Angelo Badalamenti, Harold R. Brown, Charles Miller, Lee Oskar, Howard E. Scott
Duração: 104 min.
Ano: 2002
País: EUA
Gênero: Drama



Sinopse:
Lee Holloway (Maggie Gyllenhaal) depois de uma breve estada em um hospital psiquiátrico, volta à Flórida, sua cidade natal. Inicia um romance com um amigo da faculdade e consegue um emprego de secretária em um escritório de advocacia. Lee logo sente uma irresistível atração pelo seu chefe, Mr. Grey (James Spader). A relação entre eles se estabelece através do desejo de submissão de Lee.



"(...)Louco amor meu que, quando toca fere
e quando fere, vibra, mas prefere
ferir a fenecer (...)"
-- Trecho do "Soneto do Maior Amor" de Vinicius de Moraes


Escolhi este fragmento de um dos mais belos sonetos do poetinha para falar de "Secretária" (Secretary). O filme oferece uma instigante oportunidade de visitar este tema polêmico, delicado e obscuro: as relações sadomasoquistas. Um mundo onde o soneto é literal, sem nenhuma licença poética.

Falar do filme em si não é o foco do que vocês lerão a seguir. Transgrido e escrevo sobre o que pode ajudar a entendê-lo e cada um que se sentir convidado a assistir, que o faça com seu próprio olhar.

As relações de dominação/submissão são intensas por muitas razões. O eixo do poder é, na verdade, o seu próprio paradoxo: quem domina não é o sádico que impõe sua fúria, castigos físicos e humilhações psicológicas, mas o submisso que, não apenas provoca seu dominador, como suporta a força de seus movimentos.

Sem a resistência (capacidade de suportar) e a mesmo tempo, entrega do submisso, não há dominação, isto é, quem confere poder ao dominador é o dominado. E nisto se estabelece uma dependência absoluta entre as partes: quem domina só pode sentir o que é se houver um submisso que possibilite que a natureza dominadora emerja. Quem se submete, encontra um sentido para o seu tormento.

E como será a alma desse que se entrega? Uma das possíveis interpretações é o vazio amoroso, berço do sentimento de desaprovação. Quem se submete, de alguma forma, acredita merecer ser punido. E vai além. Não deseja ser aprovado, pelo contrário, necessita da constante desaprovação porque é a única coisa que pode (re)conhecer e dá sentido ao vazio e ao tormento.

O dominador é um ocupador de espaços enquanto o submisso é um vazio a ser preenchido.

Nas relações sadomasoquistas tudo precisa ser intenso demais porque assim, a dor encontra uma significação que revela o prazer em suportá-la. A entrega é também o orgulho e a vaidade de portar as marcas do domínio. Ali, o submisso, ao escravizar-se, encontra sua liberdade.

Paradoxal? Estranho? Ilógico? Como qualificar esse jogo de contrastes?

Talvez uma possível resposta encontre eco em uma das cenas mais sutis e fulminantes do filme. Após receber os primeiros golpes físicos do seu patrão, a secretária, postada com as duas mãos sobre a mesa do chefe, roça o dedo mínimo na mão do homem a quem acaba de se submeter.

Ali, no segundo que registra a cumplicidade com inesperada ternura, nasce um casal. Um insólito casal.

Bem-vindo a bordo! ;)

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Enviado por Dolce Vita em 19/04/2009
Alterado em 02/06/2009
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