Meu nome (não) é Dolce
Até aí, apenas o óbvio. Meu pseudônimo, Dolce Vita ("Doce Vida") é uma escolha que talvez, fale mais de mim do que meu (próprio) nome.
Escolher ligar-se à vida, insistir em olhar sua beleza, quando tudo pode ser tão caótico é uma decisão.
Decidi que seria doce desde sempre. Há em mim uma obstinada busca (ou seria fuga?) de recusar o enamoramento paralisante da amargura.
Vi muita gente ("dentro" e fora de mim) com vocação trágica para este terrível sabor. Não quero! Posso até ser ácida, mas amarga, não!
Estarei livre? Ninguém está. Construo defesas. Uma delas é escrever.
Talvez, a força que impulsiona cada uma destas frases que agora você lê seja a tentativa de me resgatar do incontornável ressentimento. Terreno minado preferido dos amargos.
Quero a contramão da doçura. E ainda mais, quando há tanta gente cortando doces na vida.
Lembro de um episódio que deve ter alguma influência nesta decisão adocicada. E que liga uma coisa à outra.
"La Dolce Vita" e "Amarcord" são obras de Fellini. E "Amarcord" significa "eu me recordo".
Pois bem, eu me recordo...
Certo dia, meu pai, que era um médico mais parecido com Dom Quixote de la Mancha, tentava animar uma paciente.
O nome dela era Watfa. Nome difícil para terras brasileiras. Então, ele disse para confortá-la:
- Poderia ser pior! Imagine se a senhora chamasse Latife!
- É o nome de minha mãe!
A resposta da mulher o deixou sem saída, mas ele sorriu. E este sorriso deve ter sido terapêutico. Ela também achou graça.
E assim, da mesma forma, quando parece não haver por onde, tento descobrir a graça.
Muito prazer! Meu nome (não) é Dolce, mas é assim que gostaria de ser chamada sempre que consigo sorrir.
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