Viagens ao Redor do Umbigo
Você é feliz?
Se ao responder esta questão, pensou antes em alguém (presente ou ausente de sua vida), sua felicidade corre sérios riscos.
Transferir para o outro a responsabilidade de nos fazer felizes (ou infelizes), é pedir para ser coadjuvante em uma história onde só há sentido representar o papel principal.
Tempos egocêntricos? Prefiro pensar em outros tempos.
Sei que toda obra precisa de vários personagens, elenco de apoio, coisa e tal. E a pessoa amada tem lugar de destaque no enredo de nossa obra vivida.
No entanto, quem mais além de nós pode ser seu autor?
Não. Não defendo a idéia do isolamento nem a suficiência de uma autonomia que também é inatingível, mas é preciso contar conosco. Fazer companhia a quem somos e não sentir que este vazio, muitas vezes, negado ou ressentido, seja, de fato, compensado (ou compensável) pelo outro.
O outro é livre, inclusive, do nosso afeto, das expectativas irreais que depositamos sobre ele. Desta exigência infantil que se debruça no colo alheio como um bebê aninhado na mãe, imerso na sensação de plenitude.
Esta seria a cena original que tomará conta da nossa fantasia em viagens ao redor do umbigo?
Ao nos apaixonarmos o elo perdido retorna à lembrança e se conecta ao que estava vago, quebrado. Estamos de volta ao colo amoroso.
O problema é que o mundo não gira ao redor do nosso umbigo.
É preciso amadurecer para aceitar a fragilidade do amor. Um laço que envolve sem atar. E convive com a consciência de que o outro e nós somos independentes. Portanto, únicos.
A sensação de plenitude infantil está preservada apenas em nossa memória afetiva. O corpo registra todos os efeitos do afeto. Guardamos os sinais que serão tocados pela paixão e através dela, relembramos o prazer que um dia nos fez sentir o centro do mundo.
Você ama porque se recorda. E ama melhor quando entende não ser mais a mesma criança.
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