Mensagem ao Mar
Leio tua mensagem com os olhos da alma e meu coração se alegra.
Não sei se mereço a medida do teu carinho. Ando tão silenciosa que nem mesmo os mais íntimos sabem de mim.
Essa é a única verdade, minha querida amiga.
Você é um dos raros elos cariocas em minha memória afetiva. Talvez, a única interlocutora com quem possa falar, inclusive, quando não estou no Rio de Janeiro.
Não pense que meu silêncio é algo desejado ou descaso de minha parte, mas necessário. Quando saio de cena não é para fazer tipo. Não nasci com o ar misterioso de uma Greta Garbo que deseja estar sozinha no auge da carreira. E assim, se tornar um mito.
Meus silêncios são modestos e por uma causa bem menos estratégica. Calo para não me tornar pesada, nem transformar vínculos em correntes que se arrastam.
Algumas pessoas criam laços "fumantes passivos". Exercem tamanha pressão em quem está ao lado, machucando o outro no mesmo grau, sem que ele tenha qualquer responsabilidade pelo dano sofrido. E ainda chamam isso de compartilhar. Não seria transferir? Melhor dois tristes do que um? A infelicidade geral parece consolar as almas ressentidas.
Tenho aversão a quem faz de sua dor uma bandeira, como uma vítima profissional. Por isso, quando dói demais, calo e me resguardo. Desaguo na análise.
E minhas lágrimas não escorrem pelo rosto, mas em letras.
Por falar nelas, sinto saudade de nossos almoços em Ipanema e dos cafés naquela livraria charmosa do Leblon. Poucas vezes conversei tanto com alguém sobre a palavra. Essa coisa de escrever é uma compulsão. Quando dou por mim, estou exposta.
A palavra desnuda a minha alma e talvez, se não pudesse escrever, tanta vida obstruída, ou mesmo fracassada, escoaria em lágrimas concretas, desprovidas de sentido, por não transformar minha dor em algo sem tradução possível.
Morar no Rio de Janeiro foi uma experiência complexa. Não podia contar com minha família e outras coisas que só mesmo uma pessoa que se sente estrangeira, dentro de outra cidade e famíla, saberá entender.
Acho que por isso, passei a contar histórias. Devo tanto a este lugar ensolarado e maravilhoso.
Nasci em São Paulo, mas a escritora surgiu em solo carioca. Não escreveria o que escrevo hoje se o Rio não tivesse cortado o meu caminho.
Uma parte desse corte, com um nome conhecido para quem mora por estes lados, ainda não cicatrizou, mas um dia, passo por aí.
Que tal um café?
Nos encontraremos no Leblon, como sempre.
(*) Foto: Google
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