Textos
Vida e Paixão
(Resposta para recantista Zélia Maria Freire)
"Não há fim, não há início.
Há apenas a infinita paixão pela vida."
(Federico Fellini)
Esta crônica mistura as duas coisas. Vida e paixão. E minha vontade era dizer que não podem ser duas, mas a mesma coisa, afinal de que vale a vida sem paixão?
Entretanto paixão também significa dor. E para sentir dor basta estar vivo! Ora, então, mais uma vez, me pego imaginando que meu tema é uma coisa só!
Bem... enquanto os atalhos do sentido (e do meu pensamento) não entram em um acordo, não posso deixar o leitor pagar o preço. Por isso, não boceje! Vai melhorar! E se não acontecer, você já sabe. Complexo de humor. O senso eu perdi com essa mania de querer fazer graça.
Voltando ao tema. O fio do sentido é este: minha vida de Fellini.
Sou teimosa. Insisto na felicidade. Não em coisas quixotescas (embora as admire tanto), mas em sorrisos largos, conversas ao entardecer de domingo, pipoca (sem manteiga!) durante o filme, algumas boas viagens, nem que seja com a imaginação quando o orçamento não permitir...
Eu gosto da vida. Embora a mesma tenha me judiado um bocado até hoje! Mas eu sei que não é pessoal.
Na metade do ano passado, minha dor era algo intraduzível. Sem me entender e distanciada de mim, fiquei sem chão. Minha alma estava imersa em vazio. E isso dói!
Engraçado como as palavras brincam comigo. Quando pensava em vazio imaginava logo um lugar entediante. Vazio mesmo! Um olhar raso no tempo em que o sentido era concreto.
Que nada! Não! Quanto nada!
O vazio está repleto de ausência do sentido! E justamente por isso, só faz machucar! Dor que não encontra tradução, dor sem nome, dor sem trilho, dor assim não escoa. Ecoa e volta. Bate na cara da gente.
É verdade. Quebrei a cara! O tempo das respostas do que eu imaginava ser, estava aparentemente dissolvido. Se você leu uma outra crônica intitulada: "Le para os íntimos", conhece a pergunta que me recebia, quando menina, na casa de minha avó materna:
- Você é gente ou um bichinho lindo e encantador?
Qual seria minha reposta hoje, como sugeriu a escritora, filósofa e recantista, Zélia Maria Freire. Espero que esta crônica vislumbre o caminho.
Voltando a minha crise existencial pura! Livre dos hormônios da adolescência ou da falta deles na menopausa! Eu não sabia mais quem era, nem para onde ir.
Se você imagina que não progredi muito neste sentido está correto! Estou em busca de mim. É preciso coragem para me enfrentar e descobrir, afinal, quem sou, sem máscaras, papéis, subtítulos, funções, nomes, lugares.
Enfim, quem mais, além de "gente ou um bichinho lindo e encantador"?
Passei tantas noites acordada que era estranho adormecer sem contemplar o sol surgir junto aos primeiros ruídos da rua. O som das portas erguidas na padaria da esquina sinalizava o meu boa noite. E só então, dormia um pouco.
Não sei dizer como aconteceu. Lembro que ao observar uma fotografia da atriz, Claudia Cardinale, a mesma que ilustra este texto, tive a sensação de que havia ali a liberdade de um doce encontro consigo mesma.
O retrato de Cardinale me levou a desejar reconstruir minha existência em outro perfil: Dolce Vita. Penso que este tenha sido o primeiro sinal simbólico do sentido: meu renascimento.
O nome de uma das maiores obras do cinema e a imagem de uma de suas mais belas atrizes, me conduziram para junto de pessoas apaixonadas pela arte. E o convite para participar da comunidade cinéfila foi aceito. E novos projetos começaram.
Volto para minha análise na mesma semana em que entrava na "Comunidade Cinema Olho". Ali reaprendo a pensar a vida. O cinema me faz refletir o que fui e o que sou. E talvez, quem sabe, o que serei.
Encontrei uma das minhas tribos. Sou tantas em uma. Meus dias foram preenchidos com os créditos do cinema, o universo da fotografia, trilha sonora e a direção de arte.
Na minha dor, faltava dizer:
- Corta!
E gritar para a vida:
- Ação!
(*) Foto: Google
http://www.dolcevita.prosaeverso.net
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 11/05/2009
Alterado em 14/05/2009
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