Textos
Sala de Espera
Estava na sala de espera, para a consulta com minha endocrinologista. Enquanto aguardava, anotei algumas idéias.
O homem ao meu lado, de repente, puxa conversa:
- Desculpe interromper, mas fiquei curioso.
Respondo com um leve sorriso:
- Curioso.
- Há mais de meia hora observo você escrever sem parar!
- Espero que isso não tenha cansado sua visão.
Ele sorri e prossegue:
- Permite uma pergunta?
- Permito.
- Você tem um diário?
- Tenho.
- Ah! Eu sabia! Vou te confessar uma coisa. - O homem olha para os lados antes de prosseguir e diminui o tom de voz:
- Sempre lia o diário da minha irmã, mas era triste! Ela escrevia muito mal. Os textos, repletos de erros, sem um assunto sequer que despertasse o interesse. E olha que li, pelo menos, dez diários dela.
- O capítulo onde a esperança morre costuma ser o último a ser lido.
Ele sorriu, sem graça, e continuou sua tese crítica:
- Acho que tenho compulsão por segredos narrativos. Deve ser isso! Não é fácil entender essa curiosidade mórbida por diários. Se alguém entrasse aqui agora, iria pensar que sou vesgo, de tanto que forcei os olhos para enxergar o que você escrevia! Desculpe, mas eu não me contenho! Não é por mal.
- É por curiosidade mesmo!
- Exato! Você deve escrever melhor que minha irmã.
- Acalme-se! Melhor não se empolgar! Alimentar a compulsão na sala de espera da endocrinologista, não ficaria bem!
Sorrimos, desta vez, um pouco menos constrangidos com a situação ridícula.
- Não sei explicar! Observo uma pessoa escrever e imediatamente, sou invadido pela lembrança do diário da minha irmã! E todas aquelas narrações enfadonhas sobre o nada.
- Você gostaria que sua irmã escrevesse bem? Talvez seu interesse diminuísse!
- Será que é isso? Que trauma!
- Talvez tua irmã tenha uma chance.
- Como?
- Passei a escrever assim, após descobrir um problema na tireóide. Quem sabe, aconteça o mesmo com ela?
- Verdade? Me diga! Qual?
- Bócio criativo.
(*) Foto: Google
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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 13/05/2009
Alterado em 14/09/2009
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