TERAPIA DE CHOQUE
(PARTE 2)
AVISO: se você ainda não leu a primeira parte, o sentido do texto a seguir ficará prejudicado. Sugiro a leitura da parte 1 antes de prosseguir.
Entra a paciente.
- A senhora de novo!!!
- Bem, doutora, eu precisava conversar com alguém.
- Sim?
- A senhora me disse para não pensar mais e...
- Exatamente! Tem feito tudo direitinho?
- Então, doutora Sigmunda... eu não consegui, eu me pego pensando..
.
- Se eu fosse Karaniana encerraria a sessão aqui.
- Karaniana? De onde vem isso, doutora Sigmunda?
- De meu avô, Jacques Karan.
- Ele deve ter sido muito importante!
- Para falar a verdade discordamos em pontos fundamentais, mas reconheço a sua valiosa contribuição, ao contrário de meu tio, William Rachid. Mas, voltando ao que não interessa. Em que ainda posso lhe ser inútil?
- Ah sim, como eu ia dizendo eu começo a pensar...
- Mas será que nós não vamos nos entender hoje? Assim não dá, senhora Jocasta! Eu já lhe avisei que no seu caso, pensar é contra-indicado! Vamos prosseguir.
- Então doutora, outro dia eu assisti um filme muito engraçado na televisão e fiquei com ele na cabeça. Toda vez que me lembrava, eu ria sem parar!
- Elementar! Eu já havia previsto em uma das minhas hipóteses flutuantes. A senhora entrou em curto-circense!
- Doutora, foi horrível! No meu prédio mora um senhor que se parece muito com o ator do filme e sempre que eu o vejo não consigo me conter e começo a rir!
- Claro! Esse é um caso clássico reflexo de associação hilariante.
- Tem cura doutora?
- O que a senhora fez para tentar resolver a questão?
- Tentei pensar numa coisa bem triste, sempre que eu o encontrasse. E quanto mais eu pensava, mais eu ria.
- Está vendo? A senhora anda pensando muito e ficou confusa e quer me deixar confusa porque é assim que a senhora se sente quando pensa. Então, repete comigo o que faz a si própria!
- Não consigo pensar em nada que me faça entender isso.
- Ótimo! Finalmente estamos chegando perto de nos entendermos.
- Hã?!
- Veja bem, senhora Jocasta, estou a um passo de lhe cobrar adicional de insalubridade psíquica reincidente. Saiba que a senhora pode pagar uma multa por isso!
- Por que doutora?
- Porque não usa cinto de segurança em seus impulsos ignorantes!
- Por que é tão difícil entender o que a senhora me diz?
- Esta é uma questão interessante. Mas, se eu fosse responder a todas as questões que recebo, meus pacientes seriam neuróticos cultos!
- Sabe, doutora, pensando bem...
- Seu tempo está esgotado!
A paciente sai. Sigmunda Fuad olha para o quadro de sua mãe, Melanie Kalil:
- E isto vale para você também, mommy!
- Mas eu não disse nada minha filha!
- Não me venha com detalhes mommy... me poupe...me poupe!!!
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